terça-feira, 24 de março de 2009

Pecadinho Capital









Há sol sobre o teu sexo
no todo sagrado desejo
em seu lume me disperço
abençoado pecado pagão
Enterneço e nos escrevo
metáforas a duas mãos.






quinta-feira, 19 de março de 2009

Último Pedido




Leve-me em caminhos gramados
da minha imaginação,
me deixarei ir sem paz e sem ira,
ainda que nos olhos cerrados
guarde, enlutada,
ensolarada macambira
e os ressequidos solos, duros,
como os calos de minhas mãos.

Hoje,
eu quero as sombras das noites
e um grilo em sinfonia,
para cada estrela do céu do Sertão.

Daquela gaveta sem travas,
remova os meus sonhos,
de certo,
nem todos lá estarão,
mas os que ficaram,
reúna-os em punhados,
queime numa fogueira de pau de umbu,
fagulhas se erguerão às alturas
e alumiarão,
na subida, a minh’alma,
mais doída que o mandacaru.
Sonhar não mais me acalma,
na carne já não há fome.
A Providência extirpou-me a dor.

A ela peço ainda,
não te canse a viagem
ao meu leito derradeiro,
feito ele em fofa areia
na praia que eu supor.

Numa falésia lambida pelo mar,
há de haver sobrado uns palmos
onde este corpo minguado,
finalmente,
pela seca exilado,
possa agora descansar.

Amigo, lá me deixe,
onde a água nunca acaba,
seja ela doce ou salgada,
nem careço degustar,
só me quero junto dela
p’ra que a minha eternidade
seja úmida feito o mar.

(Imagem gentilmente cedida pela minha amiga Leka Ramos. Registro de suas andanças pelas bandas de cá).

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sobre Saudade





Um vagar baldio

em atalhos fagueiros,

do pensamento arredio,

vencendo o espaço ligeiro.




Outono, Mar e Lua









Fora só um arrepio
de verão a se desmanchar
num amarelo de estio
outono por sobre o mar.

E os dias se distraíam
-tão ávidos de flores-
fazendo castelos na areia
pintando-os em cores de folhas.

Era apenas calafrio
de água a viajar
por braços de tantos rios
lívidos de luar.

E o tempo se refazia
na lua correndo ao mar
no verão que se evadia
em órbita de regressar.







segunda-feira, 2 de março de 2009

Improviso das Palavras Benditas do Vozerio




Benditas as palavras.
Bem ditos os versos que acuam o poeta,
para que falem juntos,
na forma que se dão,
do que a palavra traz em sua alma,
do que o poeta cala em vão.



Inspirado no poema "Um Vozerio", de autoria de "gaivotadourada".
Publicado no Recanto das Letras em 02/03/2009.



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