Ao se abrir a noite sobre os tetos ela vai só
buscar seus fantasmas em cantos esquecidos,
ocultos na luz dos postes, nas sombras e beiras
das sacadas, debaixo das copas, nos batentes.
Por endereço tem o domicílio dessas gentes
sem rosto, sem pais, filhos, esposas, maridos,
ninguém esperando nas janelas, nas soleiras
enquanto ela vai e vem trazendo o mesmo pó.
Tem em si duas medidas, uma funda de vazio,
marco nas palmas das mãos de acenar adeus.
Outra inexata, a medir a solidão de quem fica.
A rua separa em mim duas medidas que eu crio,
uma do lado de lá, para o tempo que se perdeu,
a outra bem aqui, onde me reparte e multiplica.
Fotografia da Internet: Rua do Bom Jesus - Recife - PE.