sábado, 30 de março de 2013

Cerejando










Imaginei-me inventando o rubro da cereja

só para revelá-la em vermelho.

Inventei o vermelho só para ser cereja.

Inventei a cereja só para ser vermelho.

Imaginei o vermelho, a cereja, para ser imagem.

Imaginei a cereja, o vermelho, para ser sabor.

Criei um escândalo no meio do pensamento

- eu, o vermelho, a cereja, a imagem, o sabor -

Já imaginou?





domingo, 10 de março de 2013

Circunstância









Março a meio 

nem mais ameno 

nem menos alheio 

vai pelas janelas 

escapole nas frestas 

ganha as vielas 

um diz-que-diz-quê 

coisa alguma há a fazer 

senão olhar para trás 

nas novas velhas dos jornais 

e ir aonde não se volta mais 

Só as garças permanecem 

intrometidas na paisagem 

feito lhes faltasse viagem 

Noites vermelhas 

misturadas às estrelas 

de chuva forte, centelhas 

Duas gotas juntas por pingar 

espremidas na torneira 

nós a espera da queda primeira 

até o tic tac temporâneo acusar 

hora entre as grandes e meãs 

que deixaremos de estar lá 

Recusaste-me saber teu nome 

Calei no tráfego da manhã 

o nome que dei a te chamar 

A caminho de qualquer canto 

te envio com a dúvida por fio 

uma carta que decerto voltará 

todavia, não a teres lido 

para sereníssimo espanto 

terá valido tanto quanto 

ter-me a ti escrito para nos guardar 

Que o vento sobre a mesa 

virando as notícias dos jornais 

é a circunstância da garça 

de onde evoluiu livre

livre, não retornou jamais.







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