É do Direito negar um crime
descoberto. Se nenhum foi cometido é direito assumir não ter havido nenhum. É
próprio da Justiça a justiça justa ou a justiça possível no espectro das
impressões pessoais oriundas das exposições às experiências de vida real externa
de quem julga, sendo que ambas, justiça justa e justiça possível são cabíveis
por fraude voluntária do pensamento ou por consciência involuntária. Leis não
passam de referenciais, e a depender do contexto da moral das sociedades, são
limítrofes, de éticas mutantes, à deriva das vontades individuais. Uma mentira
difundida por séculos a fio torna-se verdade, é verdade, e, é verdade que uma
verdade exaustivamente repetida por séculos também se torna verdade, e, é
verdade que a distância entre uma e outra é a dúvida, porém, a quantos
interessaria conhecer todas elas? Quantos as suportariam nessa altura da
trajetória? Por isso a vida é curta, e quando extensa a salva as demências.
Simulações antes de senilidade são bem aceitas, se aprazíveis, e os
subterfúgios para elas dependem de ao que os sentidos foram expostos. Os
sentidos fazem a mente e a mente, não raro, os engana se os sentidos se
enganam. Realidade é a soma das fraudes das utopias convictas, e funcionam como
se científicas. Como é impossível um cego descrever com precisão as cores de um
pôr-do-sol, tal uma pessoa de visão normal, se lhe falta precisão no
vocabulário, ainda mais não fosse o fenômeno em si impreciso em cada dia. As
nuvens nunca são as mesmas no céu e o céu é muito vasto acima dos ventos que
movem as nuvens. A luz de revelar as coisas também não é nunca a mesma. Como é
impossível a um surdo descrever o som da queda d'água de uma cachoeira com
precisão ele descreverá o impacto dos decibéis das ondas sonoras em seu corpo
como uma pancada, e caso a queda seja de pouca quantidade de água, ele jamais
descreverá o fenômeno com precisão, tal uma pessoa de audição normal a quem
faltasse o vocabulário para explicá-lo. Mudos gesticulando Libras funcionais
para quem não compreende este vocabulário e uma pessoa capaz de articular
fonemas, limitada no entendimento da linguagem.
Somos
instintivos e sensoriais, e foi preciso lançar mão do uso das especializações,
em assim sendo, o mundo cercou-se de fragmentos difíceis de serem juntados
todos ao mesmo tempo, e mais do que isso, difíceis de serem processados ao
mesmo tempo. Lentamente eles se vão agregando em partes convenientes ao bem
estar dos sentidos de quem os possui funcionais como epifania, e com objetivos
funcionais, vagando em superlativos comerciais e minimizações desqualificantes,
fadados ao exagero e justificados por estatísticas.
Para
o cidadão indistinto, nas bases das pirâmides sociais, testar intenções e ideias por trás delas de maneira coerente e menos empírica nunca foi tão urgente como
forma de garantia de uma sobrevivência igualitária e racional, a partir do
indivíduo até os sistemas sociais e governamentais que tal conjunto forma. Os
empirismos já prestaram os serviços e desserviços que podiam à Humanidade. As
utopias nunca foram tão desnecessárias às revoluções que a Humanidade
necessita, embora tenham carregado até esse ponto, natural e imprescindível de
reversão dos pensamentos cíclicos, os indivíduos, as sociedades, e as
estruturas dos governos de cada País. Jamais chegamos a um ponto da História da
Civilização no qual urgisse a necessidade de sermos tão demasiadamente honestos
com nós mesmos em tudo, ainda que em detrimento das religiosidades, ideologismos,
e ideologizações políticas imbuídas das fraudes intelectuais que lhes são
próprias. Nunca foi tão urgente passar a limpo as imposições de pensamentos que
se desdobraram em ordens sociais e econômicas e seus crimes contra a Livre
Consciência, em verdade, cometidos em nome dela.
Do
domínio do fogo ao domínio da tecnologia de beneficiamento do Urânio das bombas
atômicas, passando pela fraude ingênua da Costela de Adão como órgão reprodutor
quando ainda não era possível visualizar as células reprodutivas porque
simplesmente não havia as lentes de aumento para tal. Não havia a tecnologia
disponível para tanto e o mito persiste completamente embasado de ignorância. É
como descobrir o Bóson de Higgs ou Partícula de Deus, uma metáfora da Ciência
contaminada do pensamento religioso, passando por cima do conhecimento de que o
cromossomo Y jamais poderia ter vindo primeiro na escala evolutiva puramente
pela falta de condições bioquímicas para isto. Desfazer mitos aparentemente
insuperáveis, como o de um deus à frente de tudo, quando quem está à frente de
tudo, manipulando os deuses que cria para sujeitar, inutilmente, o homem, é a
mente humana e sua diversidade de linguagem e entendimento que adapta seus
deuses às suas misérias adaptando, igualmente, as preces. E até se prove o
contrário, a concepção de deus é extremamente terrena. Pode haver um recôndito
na Terra no qual haja ordem e ordenação social apenas e essencialmente se
seguindo os Dez Mandamentos de forma coletiva, mas há, decerto, coletividades
detentoras de sofisticados códigos legais, com dezenas, centenas, e milhares de
regulações para todos os setores da sociedade e para o indivíduo que não
cumprem nem os Dez Mandamentos, elaborados na premência de uma desorganização
social existente em uma situação literalmente desértica, segundo a História,
nem cumprem seus sofisticados códigos legais.
Horizontalizar
os poderes e as capacidades, inclusive a faculdade de pensar, e alguns poderes,
de fato, primar pelas suas extinções. Seus lutos resolvíveis. Reorganizar as
concepções com vistas a uma nova ordem de pensamento, reciclando os pensamentos
testados e dispersos em fragmentos. Nada é mais conveniente à estática, à
inércia, do que o bandeamento do pensamento em lados opositores, que devam ser
erguidos como bandeiras no campo de batalha dos idealismos. A Humanidade,
então, haverá de se debruçar sobre suas convergências mais do que sobre
divergências.
Temporal
e mortal é o Homem. O Tempo e a mortalidade o desorientam e daí a incapacidade
em se perceber como Sistema, percebe-se como, no máximo, integrante do conjunto
de valores que tenta praticar em conflito com indivíduos que assumem, como
forma de convivência social, os mesmos valores e não os praticam. Ao se afirmar,
por exemplo, que suas raízes coloniais escravagistas justificam sua condição
social, seu aprisionamento mental, e sua condição social, se fornece a desculpa
perfeita para que assim o indivíduo se acomode nessas condições, não obstante,
todos os falsos inexplorados ou subtraídos da sua história coletiva. Daí as
doenças da mente, as somatizações, que nem sempre podem ser atribuídas a um
gene deletério, deficitário, recessivo, dominante ou mascarado, esses a Ciência
já é capaz de localizar e classificar, e permeiam todos os tipos genéticos
humanos, por conseguinte, restam as doenças da consciência difusa de uma
realidade distante dos sentidos, que por justiça biológica prescinde, enfim, de
todos os concomitantes términos de cada porvir passado.
Tendo
se mantido inexoravelmente através dos séculos, os instintos primários de
sobrevivência: abrigo, alimentação e reprodução, não obstante os saltos de
desenvolvimento tecnológico, que não implicam diretamente em melhor qualidade
de sobrevivência coletiva, ainda assim, esses instintos acompanharão o Homem
como acompanham qualquer ser vivo, e por causa deles, não como qualquer ser
vivo, o Homem continuará exaurindo e matando o Homem, auxiliando seus próprios
desequilíbrios sociais até à extinção, pois que as barreiras geográficas de
isolamento praticamente não mais existem. As barreiras políticas no que tange a
convivência global são vulneráveis e belicistas, e a paz nada mais é do que uma
intermitência nos estados de guerra sejam eles pessoais, regionais,
continentais ou mundiais. Mas nossa escolha não deveria se dar entre um
holocausto lento no limite do inassimilável, ou voraz no limite do que nunca
poderá ser profundamente conhecido. Mais do que pela funcionalidade das
adaptações do pensamento às transformações das civilizações humanas, deverá se
dar através da inteligência emocional que o homem atinja a racionalização dos
seus instintos primários com menor angústia existencial, porém, se conseguir
aprender a reaprender, na busca das terceiras vias e quantas for necessário,
sem culpas, nem julgamentos, nem desculpas, nem perdões. Sem nada que o
fragilize além do talento da índole para a fragilidade, e este deverá ser
suplantado pela vocação para sobreviver.