domingo, 26 de abril de 2009

Por Que Há Som No Desejo...




São tuas bandas entre minhas músicas
acres, armadas qual trinado de pardais,
de cada lado de dentro do pêssego gotejante,
amanhecida luz sinfônica de cristais.

Arrisco a forma do teu suor e sêmen
nas brumas apressadas das ancas,
quando do som não há mais nada
onde galope tua boca em notas tantas.

E é de morte a surdina em meus ouvidos,
zunindo os quatro sumos que contraio,
até que lhes magoe o negrume da
vida florida serenos espinhos de maio.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ensaio Líquido







Se me for permitido um dia
este
e quando durma
Lua.

Se me for permitida uma hora
noite
e quando acorde
chuva.

Se me for permitida uma forma
mórula
e quando orvalhe
gozo.

Se me for permitida uma página
lágrima
e quando escreva
rosto.

Se me for permitida uma cor
água
e quando germine
nua.

Se me for permitido um tema
fato
e por efeito
tua.




quarta-feira, 15 de abril de 2009

Flores do Asfalto



Então, era o aço
de flores tardias,
urdidas nos traços
do corte que havia.

Então, eram olhos
a buscar estrelas
por tetos sem solos,
sem ter como vê-las.

Um sonho desperto
deseja ser grão,
mas queda deserto
e sangra, então.

domingo, 12 de abril de 2009

Orgástico





Ah! Aquele apelo
Seria um poema?
Chegou a sê-lo
Quero este dilema
de língua e pelos.



Alma Em Carne Viva






Do mar, conchas, algas e monstros
juntam-se espectros do sol oblíquo
Sopro do vento se indo ao seu canto
por entre as vidraças dos dias a fio.

Ermo de espumas em si se desfaz
tão breve qual devaneio indigente
cobrindo ao léu a existência fugaz
de gente em postas de tanta gente.

Acima de pedras de sal e do lodo
vagueiam sem chama, olhos de alívio
e a pressa do resto do nada todo
gravita infinita vontade invisível.

De perto, quase perfeito engano
Mar e maio de quimera vencida
Jamais se extingue em seu todo
Mas, deixa a alma em carne viva.




quinta-feira, 9 de abril de 2009

Decompondo a Lista I





A Lista
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via a dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais (...)

Oswaldo Montenegro.



Pois é, eu tentei...

E descobri que os grandes amigos foram enormes o suficiente para permanecerem assim, preenchendo os espaços de todas as estradas por onde tiveram que seguir e das estradas que eu tive que abandonar. E aprendi que cada um tem seu tempo em nossas vidas, o tempo de ficar e o tempo de ir, não de mim, eles irremediavelmente, inadivertidamente, tornaram-se minha 'bagagem íntima'. Surgiram e desapareceram para modificar-me ou para reafirmar-me como Ser.
As estradas trouxeram algumas dessas grandes pessoas de volta, mais velhas, mais sábias, mais céticas, mais doces, mais sóbrias, enfim, marcadas de alguma forma, na alma, pela grande aventura de viver, e eu me vi nelas.
Outros, cujas estradas não confluíram ainda com as minhas, virão a ser a surpresa do abraço, do sorriso sem reservas, o carinho do beijo franco.
Outros, não voltarão mais. Encontraremo-nos a qualquer tempo numa estrada que não vai neste chão.
Os que não foram amigos, sequer um engano no emprego da palavra, são pessoas que apenas passaram por minhas estradas ou eu pelas delas, num sentido contingente e me ensinaram, também, subliminarmente, sobre o que os amigos de verdade precisam oferecer e negar, ter e não ter, ser e não ser, para assim serem denominados.
Eu poderia listar os amigos, sim, como se constrói uma lista de compras, poderia contar, como se faz num balanço contábil, poderia até fazer os dois, assim como numa relação de convidados para uma festa, afinal, é isto que a letra da música sugere. Todavia, existe uma festa que ainda não terminou. É desnecessário reservar espaço em um papel para os que foram e os que estão chegando e atravessando. Os amigos de verdade me ensinaram que a lógica de ser e se tornar é muito outra. Que é preciso respeitar a dinâmica de existir, e saber que o amor de amigo, como qualquer outro, deve ser livre para ser avocado verdadeiro, e assim sendo, não importa o tempo nem as estradas.


Para: Alexandra Ramos, Claudia Alexandre, Claudia do Espírito Santo, Cleonice Teodoro, Celso, Dani e Fátima.





quinta-feira, 2 de abril de 2009

De Abril a Abril, Ponto a Pronto




Dez anos de abril,
a bicicleta veloz numa curva marginal,
um descuido, a rua larga
tudo rápido, tanto sol
[cinco pontos]

Vinte anos de abril,
para sempre e mais uns instantes,
a vida beija, baila,
deseja, dois rebentos
[ponto de partida]

Trinta anos de abril,
intento da causa, importa a vida,
importa a morte, importa a escolha,
importa o efeito
[Ponto para o não]

Quarenta anos de abril,
ainda tudo é infindo,
passado ausente, futuro por vir
chegando e passando
Reticências, pronto!


Poemeto De Mim Ao Mar




Um mar a me envolver,
ondas rachadas, caminhos.
Eu, espuma e verbete,
em verde-azul marinho.

Medidas pelo vento
já distei as minhas rotas,
onde deixo e levo embora
pelas asas de gaivota.

Em montanhas submersas
enfeito os ninhos que tenho,
assim, eu vôo e vazo
no intenso de onde venho.




Texto em homenagem ao quarto ano de aniversário do, gostosissímo, blog Mar de Palavras®
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