terça-feira, 27 de outubro de 2009

Soneto Quase Terno




É quase terno o recorte de uma ilusão,
é, de longe, tão mais estéril e ameno,
desfolhadas suas correntes de verão,
erva senescente de elos tão pequenos.

Vez em quando o dia faísca demasiado,
de outras vezes desfalece com frieza
e o céu se revira bem perto e esfolado,
onde um transe lhe permeie a gentileza.

Certo é que a mágoa trai-nos o senso:
fumaça fria a tentar fundir-se à fria água;
contíguas, trespassam um vazio imenso.

E a ternura é quase nada de pelo menos
se de mãos arregaladas tateia-se a mágoa,
a ilusão e o senso, feitos deles mesmos.





segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A Palma do Destino




Até pensou em mudar as coisas
não muitas
só as que duvidava
caberem nas calçadas das mãos
que o escoravam

Tomou trens e corredores
tanto lá atrás como mais a diante
chegou à sorte que pensava
prender entre os dentes
como se dela fosse antes

Ele vinha fatigado
transpirando suavidade ébria
pisando linhas bem usadas
sinuosas, somadas.
o trajeto se era o certo
no percurso saberia.

E mesmo agora
na palma de sua mão
permanecem tantos trechos
justapostos na viagem
marcada para amanhã
e outrora
desde o começo

Depois do fim vem outro fim
E ele sabe: naqueles passos
alegria e dor, prazer e dissabor
vida e morte
são apenas endereços






sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Riscando os Dias






Existem os pincéis do mármore
assim como uma fragrância fria para cada medo.

Existe a pergunta dos violinos
assim como o pensamento, em balé, se demore.

Existem asas para cada pólen de rosa
assim como todo mar e olho são salinos.

Existe um adágio em cada hora boa
assim como um segredo que se alcança.

Existe um drama para toda poesia
assim como uma cicatriz à pele se afeiçoa.

Existe a metáfora do cinza
assim como plágios no calendário, mas quem diria?

Existe o papel de cata-vento
assim como o vento, a ilusão de uma rima.





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