A terceira porta
cor de pele por dentro
pintada
como a primeira
une povos em ira marcada.
Uma menina na praia
é sempre menina
na Louisiana
ou Havana.
Mas do que falo?
Um motorista passa
em alto volume
a extensão do falo
felado às pressas
ao pé do muro
que não há em Berlim
como quem grita:
Olhem para mim!
Uma menina na praia
é sempre menina
em São Paulo
ou Teresina.
A terceira porta
cor vermelho hemácia
pintada
como a primeira
abriu-se para nada.
Uma menina na praia
é sempre menina
em Tel Aviv
ou em Gaza.
Urubus com infantes
nas moelas
são as mesmas crianças
que aquelas.
Uma menina na praia
é sempre menina
na Somália
na Argélia.
A terceira porta
cor alaranjado víscera
pintada
como a primeira
abriu-se para a quarta
de pedras duras
lágrimas.
A terceira porta
cor amarelo fome
pintada
como a primeira
abriu-se assombrada.
Uma menina na praia
é sempre menina
na Sérvia
na Croácia.
Noções
de poesia em carne
e asco
de se ouvir
na beira do poço
contando dinheiro
de plástico.
Uma menina na praia
é sempre menina
nas Coréias
ou na China.
O caminho da ilusão
é de um passo
a contar da espera.
A terceira porta
cor verde bílis
pintada
como a primeira
abriu-se arrastada.
Uma menina na praia
é sempre menina
ou Guatemala.
É práxis de deuses
impossíveis
postuladas em mantras
e rezas nas luzes
de mísseis.
A terceira porta
cor azul desabrigo
pintada
abriu-se arreganhada
a engolir Meca e Coliseu
sob o céu que protege
heróis, santos, reis e réus
restantes pós enganos
de uma paz herege.
A terceira porta
cor anil necrose
pintada
como a primeira
abriu-se bandeada.
Uma menina na praia
é sempre menina
em Nova Délhi
ou Tibet.
Quebrando a direita
e a esquerda
dobrando a esquina
o que há é
a mesma rinha.
A terceira porta
cor violeta violenta
pintada
como a primeira
abriu a guarda
da sorte para a morte
em larga escala.
Uma menina na praia
colhe cogumelos
-que dão sob o arco-íris-
cheirando Sarin
queimando em Napalm
ainda distante do fim.