Eu podia
em algum dia
desses que se abre a porta
para o céu entrar
mastigar à mesa esse segredo
de temor oculto
dividir o susto
às claras.
- Comer palavras
tem na língua um gesto
de enganar o coração. -
Lembranças viram
fraudes de memória.
À vera, verdade é momento
e no seguinte movimento
acelerada ilusão.
Deslembro o juramento
que eu faria até ao desespero
como só um dia houvesse
para dizê-lo.
De então
estamos acertados
verdade é a porta
a mesa, o céu, a língua
fazendo coisas de porta
de céu, de mesa
de língua
esta, inclusive, mentira.
Saudade dá quando
o agora é outro.
Vamos celebrando
esse momento morto.