domingo, 30 de agosto de 2015
Frisson
Pele à flor dos nervos
Nervos em flor na pele
Escolher sentir
nem sempre é preciso
Se preciso nervo
se preciso flor
se divide a carne
se distingue amor
se louco de pedra lilás
se lilás a coisa louca
deixa estar.
Com Paty Braga.
sábado, 29 de agosto de 2015
Ideologia
Massa de manobra
de direita e esquerda
é como caranguejo-uçá
quando não está na lama
está amarrada em cordas
se amarrada em cordas não está
com toda certeza dessa vida
a massa está fervida
oferecida em petiscos
e os donos do poder
continuam ricos.
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Esperança
Às vezes
ela me assalta de tocaia
destronca os membros
eviscera-me os lábios
me consome
me consome
Tristeza pesa
fica uma palavra enorme
e de tão desfeita
nem recordo o que esperava.
Pintura de Patrice Murciano
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
Alumbramento
você não viu nada
abri uma fresta
a noite desceu
a noite desceu
abri meia porta
alvoreceu
alvoreceu
escancarei-a e era dia
você despejou na sala
como quem não queria
beija-flor, primavera, hibisco
ao redor
na relva plantou o pão
na relva plantou o pão
sem ao menos semear o trigo
tudo feito a céu aberto
mariposas acordadas
voando graves
bem perto
bem perto
da minha casa fez cair o
teto
na cozinha fez chá de rosa
fragrante o suspiro
entrecortando nossa prosa
ai, meu chão partido
esse alarido
crepitando como lenha
que eu desejo mais acesa
quanto mais acesa a tenha
é longínqua a minha casa
no alto de um verde opalino
e velho carvalho como menino
fazendo parede sem plano
o surgimento do mundo
se alastrou em um segundo
povoando os meus ermos
foi talvez
por isso mesmo
pela porta desvairada
por isso mesmo
pela porta desvairada
exagerada a profusão
você veio
e não viu nada
não
e não viu nada
não
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