sábado, 28 de junho de 2008

Reinspirar








Inventamos palavras antigas,
meio céu meio mar.
Naquela areia ambígua
abrimos riscos de par em par.

Mas perdemos, é certo,
nosso chão de desenhar
N’algum momento deserto,
por descuido do pensar.




domingo, 22 de junho de 2008

Identidade



Para renascer de amor,
mato-me todo santo dia
e até nos dias pagãos
morro volátil e fugidia.

Em que me pese os amores,
seja toda a minha sina,
colher saudade e poesia
do que a morte me destina.

Não corram teus olhos
para onde não vejam os meus,
o amor e a morte e a saudade...
traços do rosto que o dia me deu.




sábado, 21 de junho de 2008

Começo



Sair à noite,
andar sozinha,
em todos os passos,
perder o exato.
Olhar no vento
meu ser por dentro.
Fluir no escuro,
na beleza
das voltas do dito
mal acabado.
E se ainda assim,
não me perder de mim,
persigam-me todas
as minhas horas.
E que o caminhar
devore medos e sombras,
mas se estes perdurem,
Insistam, afrontem,
ilumine-me o silêncio
das estrelas,
cegue-me este silêncio,
para que não intua inquietude
na dor.
Traga-me o cansaço,
um espelho,
para que eu,
ao acordar,
reflita-me “começo”.



Dedicado à Claudia do Espírito Santo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Fotografia de Outubro


Outubro chegou
numa fotografia sépia.
Vi meus pés no abril de ontem,
bocado de um átimo impresso...

Olha que coisa engraçada...
Tua lembrança envolta em púrpura,
neste lado occipital.
Nem cedo nem tarde me despeço.

Não fales de esquecimento,
longe não te deixaria ir assim,
nem nos magoe a distância;
a mesma que é de mim é de ti.

Modo de Amar




Fechei teus traços
em minhas digitais;
crayon, carvão,
aquarela de um tom a mais.

No peito de tua alma azul
quão longe me levaste...
Achei-me!
Sem pressa nem alarde.

Eu te supunha terra,
mas eras rio
que rolou pelas pedras,
sumiu-se no mar,
se trouxe e partiu.




domingo, 8 de junho de 2008

Único Ato



Não me olhes assim de cima
para que não me vejas papel
de onde reverte palavras
de injuria escorrendo.

Não me olhes assim distante,
pois já te contaminou
a febre de “estarmos”
fossemos nós o momento por dentro

ato nenhum de ler nos medos,]
e divagar em segredos,
chagar atrasado, guardar-se calado...
pensamento sem continuação.

Não me olhes assim estendido
letras largas no papel meu e teu
que sou eu e és tu,
linguagem: objeto nu da ação.



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