terça-feira, 25 de agosto de 2009

Erótica




Hoje, reclinei entre duas asas oceânicas,
da mesma forma que fazem as estrelas,
no ponto médio mascavo das madrugadas,
e pus-me ao alcance de me levar por elas.

Uma atmosfera de chama vicejava apenas,
infinitamente azul nas margens dos lençóis,
preenchendo cavernas de dedos em plena
efervescência de baques de silêncio e voz.

Aqueles rumores tinham mãos. Indecentes,
abriam-me, sôfregas, todas as bocas,
em duas metades de fruta transparente.
Uma, caiu pelo teto. Ardia uma outra.

E levitou espessa sobre o suor e os átrios,
a torto e a direito de compassos quebrados.
E pousou profunda na caverna, de lírios
contraídos, dilatados. De gozo, amalgamado.

Hoje, reclinei entre duas asas oceânicas,
na exata forma que constrói um oleiro,
os ventos que alçam aves de cerâmica.
Nasci manhã. Morri estrela, o dia inteiro.




Finalmente! O texto perdido foi encontrado. E se alguém nunca soube o que é perder uma criação, lhe digo: é como perder uma criatura para a qual te preparaste. Para a qual enfeitaste todos os teus ambientes: neurais, vasculares, cardiácos e uterinos. É como haver ficado orfã de si, existindo apenas pelo tanto que restou dela. Mas quando ela volta, ah! É uma sensação nova. Nunca como se fosse outra, mas como se houvera nascido a mesma, de novo.




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