quarta-feira, 27 de abril de 2016

M. Saint-Exupéry




ah, sim!

há suplemento
em cada luto
em movimento

nos teus e nos meus

só se cresce
quando algo já morreu





Mais Um




rabiscando
em guardanapo
de papel

lá pelas tantas

desenhei poemas
com teu jeito

a noite chegando
num tropel

teria sido só um dia
comum

eu arranhava o papel
você pedia mais um

aquele dia
nunca mais anoiteceu





terça-feira, 26 de abril de 2016

Rota



se o teu ciúme
pelo simples costume
de me amar
é menor do que o mar
que é vasto e meu
ame-me como as gaivotas
amor meu
mas deixe em suas asas
as rotas de me visitar




Construção





bati num prego

a madeira rangeu
por dentro

me sussurou um poema
mínimo minimalista

o calo só valerá à pena
se a pancada e o tempo
fizerem do sentimento
uma Ilíada







Assincronia



E agora é que são elas
o retardado calendário
deu de me cobrar urgências
como não fosse o próprio
mais indolente que as esperas




Orgânica






Entro nas tuas narinas
correndo aos pulmões
Se erro o trajeto
me troco nos átrios
Assim me reconheço
e contigo me basto



O Escritor




Aquele inseto na tela
desenhou uma letra nova

hieroglifo na página infinita
para um dia de chuva
anoitecido na janela

Fina
intensa e constante
cortada por fios elétricos
do poste e sua luz amarela

Acima do ar lavado
o céu ficou vermelho
estatelado

Abaixo o asfalto falho
preto e limpo
batizado

Ele a dissertou tão claramente
que a cada gota caída
podia se ver grávida
uma semente

Nada cobrou pela obra
assim como veio
foi embora




A Volta




Os meus caminhos
necessitam do mar

Há tanta água no mundo
e só dois olhos para olhar

É tanta vida escondida
e tanta minha a estiar

Quando eu
me falte aos meus fluidos

nem murmúrios
nem ruídos

me deite no corpo salgado do mar
ele há de reconhecer-me ao voltar



Fotografia: Jeanne Chaves




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