sábado, 18 de julho de 2009

Sonetos de Amar






I

Arrisco na artéria do teu pescoço, um dedo.
Desenho teu rosto no chão, ele me escapa.
Gritam, em sua rudeza, a areia e as pedras;
ferem-nas fundo, o querer que me concedo.

Às vezes, quero um segredo na voz do vento.
Ao meio dia ouvir teus sussurros no arvoredo.
Busco em jardins, em praças, mas retrocedo,
me vem o receio: eles existem ou os invento?

Encontro-te entre sombras, poemas e cartas
em folhas brancas estendidas a minha volta,
repouso em teu ombro a fadiga das buscas.

Surpresa é ter-te em acorde de música.
Danço contigo segredos em voz alta,
sumindo, só, nas folhas brancas e únicas.

II

Apronto-me floresta aos teus anseios
como sendo terra, tanto mais extensa
que a fome a inflamar a impaciência,
de me fazer nos teus beijos rio cheio.

Preparo-me à toa. Ah, mero devaneio!
Se me relegar à dúvida é tua herança
por que motivo essa fome não se cansa
e me abandona, mesmo que ao meio?

(Justo e sensato seria). Mais prefiro isto
ao medo que negas e em teus atos vejo
tal comida sem fome que a mão resiste.

Vai! Não carregue de mim este ar triste.
Resolvo-me nas lembranças em cortejo
decerto, me esvaziarão do que fugiste.

III

É sempre ao pôr do sol que me vem,
empunhando delícias graves, eretas.
E eu, necessitando estar certa
de que é apenas por mim que tu vens.

Conjugado em sêmen de nuvens,
ao Criador dás a significância exata
da umidade carcomida de tuas asas,
mas que aos meus desejos convém.

Penetra-me abrasador e profundo,
olhando-me, olhos de anjo obsceno,
como se despojado do seu mundo,

restasse a si, eu, o abrigo nefando,
que acolhe em desejo sereno,
tuas dúvidas, crenças, fardos e tudo.

IV

Vento norte vibra na noite do mar,
espalhando suas espumas no alheio.
Cá dentro, tua presença leva os receios,
por tuas portas os vejo dispersar.

Então, no breu, teu corpo a passear
sobre o meu corpo, marca-me sem jeito,
a pele, de calores breves. E teus dedos
invadem-me os recônditos em vagar.

Encontro teu falo quente e trêmulo,
erguido tal facho de luz a rasgar noites.
Afasto-me do escuro e te sorvo, mudo.

Perco-me em ti, nem tu tens mais rumo.
Entornas no teu gozo, Sol e sorte,
nestes brilhos, contigo me confundo.

V

Nas planícies de seu corpo, leves cores.
De onde estou, desnudo-as lubricamente.
Nos movimentos, se quisera inconsciente
à gula com que cobiço seus sabores.

Toca-se, excita-se, contrai-se em tremores.
Cá, aflição incontida. Perto, ouço demente
aqueles arquejos e sinto como ele sente.
Assumo atitude de fumaça e rubores.

Gostaria de saber se assim ele me tinha:
diminuindo com seus suores a distância
e que a mão que o afagava era a minha.

Nesta forma (em que não estou), me fazia
ainda tanto e mais quanto a petulância,
tê-lo em contração oca por companhia.

VI

Colho na língua, do teu peito áspero,
um gosto vadio; vou da boca ao caos,
alastrando minha alma, meu umbral,
de odores brutos de homem cálido.

Tenho-te nu sobre o chão branco,
violentando em teu rosto os seios.
Túrgido, doce, me toca o teu meio,
de onde morro até onde me planto

e nasço céu de céu nublado. As coxas
abraçadas às tuas. Ora, és boca e saliva
ora, no meu sexo, um pulsar de chuva.

Olhos fechados, degustas-me as gotas.
Enfim, teu corpo e minha alma fazem vida.
Tua alma em minhas entranhas se desnuda.

VII

Chegando todos os dias, ao acaso,
desde ontem, quando eu nascia,
será plácida. Dobrado o passo,
em velocidade de hortência

que colhida lilás, no prado,
arrancada do chão, amarelecia.
Levará o que tenhas me dado:
teu teu passado, tua existência.

Florirá, como em mim fazes agora,
em hastes de momento e noite,
crescendo horto em meu corpo.

Quando vás onde comigo ela mora,
ficará tudo tão perfeito. A morte
nunca mais nos matará o corpo.




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