domingo, 29 de novembro de 2015

Tabu




E quando a Justiça
perder a vergonha
da vergonha perdida?




Mobília




Ora insisto
falta armário
para arquivo vivo

Corpos sem covas
vindos das molduras
tipo colonial

Porca gorda espera
o tombo da marreta
no quintal

Será visto
porca-farsa fartar a mesa
com seu chouriço




terça-feira, 24 de novembro de 2015

Beijo





abriu um corte
vagaroso e vasto
na boca e no resto





segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Transação




A alma
é  a alma
do negócio

O acordo
o segredo
do negócio



domingo, 15 de novembro de 2015

Red Friday 13




Hidras
com centopeias
no regaço
muitas cabeças
tantos braços
para abraços de rancor
nas iras
e acender mísseis
em prova de amor
à quem ficou





quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Politikḗ


Um dia conseguiremos distinguir a diferença entre porcos e homens.
George Orwell




Um paradigma
porcos continuam porcos
quando encontram lama



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Voto






torto
sonso
solto
pago
voto
preso
troco
errado
trago
amargo
pão
mofado



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Requiem Aeternam




Luto para a minha sina!
Me virei de baixo a cima
me lanhei por todo lado
e confesso de bom grado
nesse cerco aglomerado
com o próximo na esguelha
essa cautela só espelha
o receio do espólio
no deslocamento inglório
de clandestino abandonado
em solo firme e ressecado.

A mortalha dessa sina
me despe e me sublima
me confunde no cercado
quem sabe fosse um manto
se eu tivesse rezado manso
nos altares da mesma altura
que se elevam na usura
colorida de neon
de estar bem com o bom Deus
e bem com o Diabo bom.

E assim ajoelhada
com a alma consternada
nos três altares de redenção
me imolar, ser comunhão
Pais Nossos ao desejo
em contratos de fé e preço
Salve Rainhas para o dinheiro
onde o Pai impresso e louvado
paga inclusive trabalho explorado
Aves Maria para o Pai
distraído a não poder mais
que se está com o assassino
abandona a la française
a vítima que lhe implora
se pune, inquire e chora
sendo sempre perdoado
sem cometer nenhum pecado
em ter trocado bem por mal
feito fosse predador irracional.






sexta-feira, 18 de setembro de 2015

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Aflição




atiram pedaços
de céu
sobre as cabeças
no chão
e dizem-me
Ele ama
a tua aflição
padeça!
padecer
garante o perdão



Imagem de Guilherme Castro




domingo, 30 de agosto de 2015

Crua...











Frisson




Pele à flor dos nervos
Nervos em flor na pele
Escolher sentir
nem sempre é preciso
Se preciso nervo
se preciso flor
se divide a carne
se distingue amor
se louco de pedra lilás
se lilás a coisa louca
deixa estar.




Com Paty Braga.



sábado, 29 de agosto de 2015

Ideologia





Massa de manobra
de direita e esquerda
é como caranguejo-uçá
quando não está na lama
está amarrada em cordas
se amarrada em cordas não está
com toda certeza dessa vida
a massa está fervida
oferecida em petiscos
e os donos do poder
continuam ricos.




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Esperança




Às vezes
ela me assalta de tocaia
destronca os membros
eviscera-me os lábios
me consome
Tristeza pesa
fica uma palavra enorme
e de tão desfeita
nem recordo o que esperava.




Pintura de Patrice Murciano




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Alumbramento





você não viu nada

abri uma fresta
a noite desceu
abri meia porta
alvoreceu
escancarei-a e era dia

você despejou na sala
como quem não queria
beija-flor, primavera, hibisco

ao redor
na relva plantou o pão
sem ao menos semear o trigo

tudo feito a céu aberto

mariposas acordadas
voando graves
bem perto

da minha casa fez cair o teto

na cozinha fez chá de rosa
fragrante o suspiro
entrecortando nossa prosa

ai, meu chão partido

esse alarido
crepitando como lenha
que eu desejo mais acesa
quanto mais acesa a tenha

é longínqua a minha casa
no alto de um verde opalino
e velho carvalho como menino
fazendo parede sem plano

o surgimento do mundo
se alastrou em um segundo
povoando os meus ermos

foi talvez
por isso mesmo
pela porta desvairada
exagerada a profusão
  você veio
e não viu nada
não




sexta-feira, 24 de julho de 2015

Decomposición





Y quién me diese
una fiera abrir la piedra
de la paz a la espera.




Tradução: Manuel Zapata






quinta-feira, 9 de julho de 2015

Conjugados





Eu pago os meus dobrados
Tu cedes a alma ao diabo
Ele cala por seu lado
Nós seguimos enviesados
Vós mantendes eu, tu, ele, nós domesticados
Eles viram os dias fustigados






quinta-feira, 25 de junho de 2015

Por um Futuro, Ainda Que Não o Vejamos Passar




          
          É do Direito negar um crime descoberto. Se nenhum foi cometido é direito assumir não ter havido nenhum. É próprio da Justiça a justiça justa ou a justiça possível no espectro das impressões pessoais oriundas das exposições às experiências de vida real externa de quem julga, sendo que ambas, justiça justa e justiça possível são cabíveis por fraude voluntária do pensamento ou por consciência involuntária. Leis não passam de referenciais, e a depender do contexto da moral das sociedades, são limítrofes, de éticas mutantes, à deriva das vontades individuais. Uma mentira difundida por séculos a fio torna-se verdade, é verdade, e, é verdade que uma verdade exaustivamente repetida por séculos também se torna verdade, e, é verdade que a distância entre uma e outra é a dúvida, porém, a quantos interessaria conhecer todas elas? Quantos as suportariam nessa altura da trajetória? Por isso a vida é curta, e quando extensa a salva as demências. Simulações antes de senilidade são bem aceitas, se aprazíveis, e os subterfúgios para elas dependem de ao que os sentidos foram expostos. Os sentidos fazem a mente e a mente, não raro, os engana se os sentidos se enganam. Realidade é a soma das fraudes das utopias convictas, e funcionam como se científicas. Como é impossível um cego descrever com precisão as cores de um pôr-do-sol, tal uma pessoa de visão normal, se lhe falta precisão no vocabulário, ainda mais não fosse o fenômeno em si impreciso em cada dia. As nuvens nunca são as mesmas no céu e o céu é muito vasto acima dos ventos que movem as nuvens. A luz de revelar as coisas também não é nunca a mesma. Como é impossível a um surdo descrever o som da queda d'água de uma cachoeira com precisão ele descreverá o impacto dos decibéis das ondas sonoras em seu corpo como uma pancada, e caso a queda seja de pouca quantidade de água, ele jamais descreverá o fenômeno com precisão, tal uma pessoa de audição normal a quem faltasse o vocabulário para explicá-lo. Mudos gesticulando Libras funcionais para quem não compreende este vocabulário e uma pessoa capaz de articular fonemas, limitada no entendimento da linguagem.

               Somos instintivos e sensoriais, e foi preciso lançar mão do uso das especializações, em assim sendo, o mundo cercou-se de fragmentos difíceis de serem juntados todos ao mesmo tempo, e mais do que isso, difíceis de serem processados ao mesmo tempo. Lentamente eles se vão agregando em partes convenientes ao bem estar dos sentidos de quem os possui funcionais como epifania, e com objetivos funcionais, vagando em superlativos comerciais e minimizações desqualificantes, fadados ao exagero e justificados por estatísticas.

                Para o cidadão indistinto, nas bases das pirâmides sociais, testar intenções  e ideias por trás delas de maneira coerente e menos empírica nunca foi tão urgente como forma de garantia de uma sobrevivência igualitária e racional, a partir do indivíduo até os sistemas sociais e governamentais que tal conjunto forma. Os empirismos já prestaram os serviços e desserviços que podiam à Humanidade. As utopias nunca foram tão desnecessárias às revoluções que a Humanidade necessita, embora tenham carregado até esse ponto, natural e imprescindível de reversão dos pensamentos cíclicos, os indivíduos, as sociedades, e as estruturas dos governos de cada País. Jamais chegamos a um ponto da História da Civilização no qual urgisse a necessidade de sermos tão demasiadamente honestos com nós mesmos em tudo, ainda que em detrimento das religiosidades, ideologismos, e ideologizações políticas imbuídas das fraudes intelectuais que lhes são próprias. Nunca foi tão urgente passar a limpo as imposições de pensamentos que se desdobraram em ordens sociais e econômicas e seus crimes contra a Livre Consciência, em verdade, cometidos em nome dela.

                Do domínio do fogo ao domínio da tecnologia de beneficiamento do Urânio das bombas atômicas, passando pela fraude ingênua da Costela de Adão como órgão reprodutor quando ainda não era possível visualizar as células reprodutivas porque simplesmente não havia as lentes de aumento para tal. Não havia a tecnologia disponível para tanto e o mito persiste completamente embasado de ignorância. É como descobrir o Bóson de Higgs ou Partícula de Deus, uma metáfora da Ciência contaminada do pensamento religioso, passando por cima do conhecimento de que o cromossomo Y jamais poderia ter vindo primeiro na escala evolutiva puramente pela falta de condições bioquímicas para isto. Desfazer mitos aparentemente insuperáveis, como o de um deus à frente de tudo, quando quem está à frente de tudo, manipulando os deuses que cria para sujeitar, inutilmente, o homem, é a mente humana e sua diversidade de linguagem e entendimento que adapta seus deuses às suas misérias adaptando, igualmente, as preces. E até se prove o contrário, a concepção de deus é extremamente terrena. Pode haver um recôndito na Terra no qual haja ordem e ordenação social apenas e essencialmente se seguindo os Dez Mandamentos de forma coletiva, mas há, decerto, coletividades detentoras de sofisticados códigos legais, com dezenas, centenas, e milhares de regulações para todos os setores da sociedade e para o indivíduo que não cumprem nem os Dez Mandamentos, elaborados na premência de uma desorganização social existente em uma situação literalmente desértica, segundo a História, nem cumprem seus sofisticados códigos legais.

             Horizontalizar os poderes e as capacidades, inclusive a faculdade de pensar, e alguns poderes, de fato, primar pelas suas extinções. Seus lutos resolvíveis. Reorganizar as concepções com vistas a uma nova ordem de pensamento, reciclando os pensamentos testados e dispersos em fragmentos. Nada é mais conveniente à estática, à inércia, do que o bandeamento do pensamento em lados opositores, que devam ser erguidos como bandeiras no campo de batalha dos idealismos. A Humanidade, então, haverá de se debruçar sobre suas convergências mais do que sobre divergências.

              Temporal e mortal é o Homem. O Tempo e a mortalidade o desorientam e daí a incapacidade em se perceber como Sistema, percebe-se como, no máximo, integrante do conjunto de valores que tenta praticar em conflito com indivíduos que assumem, como forma de convivência social, os mesmos valores e não os praticam. Ao se afirmar, por exemplo, que suas raízes coloniais escravagistas justificam sua condição social, seu aprisionamento mental, e sua condição social, se fornece a desculpa perfeita para que assim o indivíduo se acomode nessas condições, não obstante, todos os falsos inexplorados ou subtraídos da sua história coletiva. Daí as doenças da mente, as somatizações, que nem sempre podem ser atribuídas a um gene deletério, deficitário, recessivo, dominante ou mascarado, esses a Ciência já é capaz de localizar e classificar, e permeiam todos os tipos genéticos humanos, por conseguinte, restam as doenças da consciência difusa de uma realidade distante dos sentidos, que por justiça biológica prescinde, enfim, de todos os concomitantes términos de cada porvir passado.

          Tendo se mantido inexoravelmente através dos séculos, os instintos primários de sobrevivência: abrigo, alimentação e reprodução, não obstante os saltos de desenvolvimento tecnológico, que não implicam diretamente em melhor qualidade de sobrevivência coletiva, ainda assim, esses instintos acompanharão o Homem como acompanham qualquer ser vivo, e por causa deles, não como qualquer ser vivo, o Homem continuará exaurindo e matando o Homem, auxiliando seus próprios desequilíbrios sociais até à extinção, pois que as barreiras geográficas de isolamento praticamente não mais existem. As barreiras políticas no que tange a convivência global são vulneráveis e belicistas, e a paz nada mais é do que uma intermitência nos estados de guerra sejam eles pessoais, regionais, continentais ou mundiais. Mas nossa escolha não deveria se dar entre um holocausto lento no limite do inassimilável, ou voraz no limite do que nunca poderá ser profundamente conhecido. Mais do que pela funcionalidade das adaptações do pensamento às transformações das civilizações humanas, deverá se dar através da inteligência emocional que o homem atinja a racionalização dos seus instintos primários com menor angústia existencial, porém, se conseguir aprender a reaprender, na busca das terceiras vias e quantas for necessário, sem culpas, nem julgamentos, nem desculpas, nem perdões. Sem nada que o fragilize além do talento da índole para a fragilidade, e este deverá ser suplantado pela vocação para sobreviver.








segunda-feira, 8 de junho de 2015

Metamorfose





Sem mais
compromisso
que isso
por agora
uma cura
indigente
eu mandrágora
sou anêmona
flutuante
meio elástica
cáustica.






quarta-feira, 3 de junho de 2015

Um pais de tolos








E por não saberem o que fazer
desfizeram o que havia
Como se havendo
nada tivessem para fazer
a não ser desmontar o que jazia.




A política estraga tudo, até o que precisa ser estragado.





quarta-feira, 27 de maio de 2015

Epitáfio Para Aquela





Um dia
deixará de existir
distâncias
entre as palavras
que me definem
reticências, hiatos, hifens
E para que serve
definição
se não para abraço
ou rejeição?
É tarde
e não chegou
ainda
esse dia
Quem sabe
no dia que se
cria epitáfios
Tão prolixa em vida
quão silenciosa
na morte
aqui jaz
aquela que não
se cansa mais.





terça-feira, 19 de maio de 2015

Passagem




Dê-me passagem
tempo, paz
paisagem.

Eu passo como
as coisas em viagem

após encantamento
viram saudade
depois esquecimento.

Desacontecem
como acontece o tempo.




Com Paty Braga




segunda-feira, 11 de maio de 2015

Poema de Não Voar





A ave do meu peito
vai-se no vento
me arranca a liberdade
com garras pequeninas
Dói-me não ter sabido que eu as tinha.
Fica a carne cortada
e esta poesia.



Com Paty Braga.





quinta-feira, 30 de abril de 2015

Trabalha-Dor






Trabalho engrandece o Homem
enormemente
e
as Feras que bestializam o homem
proporcionalmente.





Educação Pública X Bombas de Gás.
Massacre da Polícia Militar do Paraná contra Servidores Públicos daquele Estado de Coisas.

Imagem: www.ugt.org.br



quinta-feira, 16 de abril de 2015

Intimidade






As mentiras precisas
-paladar da tua boca-
essas eu amei cada uma
incapaz

Lá no coração
onde os poetas erguem
os feitos da alma

De tal distância
coração nada mais é
do que um condão
de faz-de-conta
Verdade despossuída

Serão tuas verdades ocultadas
meus melhores segredos
e eu a levá-los contigo
em apartado
até me sequem as palavras
como um rio
sem poder correr para trás.




Muy Leve




Deseo el amor
de los árboles por sus hojas
-en otoño-
el desprender muy leve, leve
que las posa en la tierra como hijas.
Lo que no supuso, el amor releve
la lluvia invernada
acrescentada en la savia de la raíz.
Así quiero
al menor viento, por una riesgo
ese amor, y generoso
en cada una de las veces
como fiesta, con razón, quizás.
Que las muertes que el tiempo hizo
con presentimientos de ser feliz
solo se llevaron de mí
aquello que nuca fui, tuve, quise.



Com meus sinceros agradecimentos para Manuel Zapata, tradutor.






segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ponto de Fuga







A coisa
é assim
do índigo
ao carmim
Magenta
se inventa
O morto
se ausenta
O santo
se isenta
e a quem
se arrebenta
também o cinzenta
Tudo é
pelo menos
pleno
Nada é
pelo pleno
menos
Sei o que digo
Relógio de pulso
expulsando
as horas do ano
parece comigo
Toma da vara
menina
Nem todo castigo
é sina
E pesca pétala
e gralha
pois nem todo fim
veste mortalha
como nem todo norte
traz sorte
Toma do chão
escreve as estrelas
para se guiar
que nem toda fuga
é abrigo
Há que testar
E o que escapa
ao que lhe digo
não está aqui
nem acolá
encontrado
é preciso
paciência
para pintar.



Pintura de Patrice Murciano





domingo, 22 de março de 2015

A Medida do Perdão







Quanto de perdão
haverá em cada um
ao perdoar uma ofensa
de cada vez e uma única vez
cada ofensa de cada um?






terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Favela Tipo Exportação





Seu Clemente
foi educado
para ter sua miséria
com músculo
doçura e dente
Um rebento
achou bala perdida
Outro
pedras na balada
Criou mais um
ao pé da mesa
-cão magro amarrado-
faltava-lhe pedra ardente
também
a rudeza do soldado
No gueto ideológico
Luxo místico
sem paz
dia vai alegórico
dia em cápsulas de fuzis
dias vem brilhos a mais
do que estrelas cadentes
e nos dentes de Clemente
Ingênuo
da Carochinha
envelheceu
ficou demente
faleceu deixando
por herança
a muita miséria
que tinha
e uma TV de plasma
a repetir a ladainha.




Fotografia gentilmente cedida por J.S.




quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Abominável Gado Novo






Eis nosso lastro
pasto emparedado
rês tange gado.








quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Ti, Tudo






Mereci, encaro
ficando escuro, disparo.
se raro, me preparo.




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