domingo, 4 de maio de 2008

Interlúdio



Lá no começo de tudo
o inventei poema deitada ao largo
nos olhos de pôr-de-sol.
Risquei o céu de sua boca,
crendo-me cometa ao entardecer,
do cintilante ao vermelho batom.

Quando primavera,
vestí-me em roupas do orvalho
impregnado na tela de matizes quentes,
pintada com os pêlos do seu corpo.
Dois pontos de fuga sem pressa
no meridiano ser algum.

E lá no meio de tudo,
o cometi de improviso, pensamento,
correndo no tempo certo do tempo,
qual lágrima destilada na poeira
do caminho sem bússola nem espelho,
eu, fêmea em despertar.

Quando verão,
despi-me em noites de lua
e assim tão clara bati a sua porta
com argumentos de vontade e solidão,
para que me tomasse completa
e fosse suave ao mergulhar.

E ao fim, no todo,
foi tudo poema e pintura,
foi outono e inverno,
um interlúdio de nós mesmos.
Não pretendeu ser efêmero,
embora não se desejasse eterno.



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