domingo, 9 de novembro de 2008

Entre "Una Musica Brutal e o Que Eu Não Sou"


Servi sete drinks e ajeitei o corpo na cadeira para ouvi-los desvendar a morte. O meu, doze anos, sem gelo, os deles não importa, qualquer combustível mais jovem ou mais velho serve, precisam apenas queimar e divagar sobre o “se”: Se ele não fumasse tanto; se não tivesse largado aquela mulher que o servira tanto: se tivesse tido mais atitude quando lesado pelo plano Collor: se pudesse dispor de uma assistência à saúde melhor, (quem dissera mesmo que águas passadas não movem moinhos?). Enganara-se diante daqueles Quixotes. Faziam mover com muita vontade, sem ventos nem hélices, gelo nem fazia diferença, doze anos ou mais jovem, mais velho, pouco importa, moinhos de águas que não repassariam jamais. De algo que fora devolvido ao cosmo por que a matéria já não suportava. Imaginem se tivessem deparado com os tubos que levavam ar para um lugar já morto? Com gráficos indecifráveis, secreções tardias... Melhor o “se” da resistência a própria mortalidade... Onde mesmo deixei minha bebida? Em algum lugar entre “Una Musica Brutal” e “O Que Eu Não Sou”?... Poemas aos quais fui apresentada recentemrnte por uma amiga e naquele momento, tomavam-me o juízo através dos fones de ouvido, juntamente com o pensamento em um livro, cujo autor não me recordo agora (perdoem-me), falava ele sobre as conseqüências da “não morte”, me angustiou a lembrança, não havia a ficção e poesia macabra que Wilde “deu” a Gray nem o cientificismo que Mary Shelley “deu” a Frankenstein. Antes, uma dor insuportável por não se poder morrer. O homem com queimaduras de terceiro grau em noventa por cento do copo, aquele outro que teve o cérebro esfacelado por um tiro de espingarda calibre doze, aquela envenenada com cianureto pelo marido, a criança com leucemia, os anencéfalos, os natimortos... Natimortos!? Nenhum deles teve direito a morte, o autor não concedeu, desinventara a morte física. Quanta dor se não há a morte... (Deixei permear minha alma pelo pensamento na falência absurda, como se já não fora, do nosso sistema de saúde, onde abrigar, aqui, tantos "não mortos"?). Vem a Marisa aos meus ouvidos, estou no seu “Vilarejo” e terceira e última dose, doze anos, sem gelo... (será que tem ar em maior quantidade na varanda?) Mais tarde, refarei aquele antigo sorriso numa prece...


(Imagem Google)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Esquinas




Mordaz trouxe em ruas,
condescendente, o macho.
Por opinião infligida, incisivo.
Houvera lamentos lácteos, lascivos
Soubesse-se a lida!... tosco e perdido.

Feito em força, se reforça
ao derreter o tempo que o retoca
arabesco, contorno, erguido falho.
Barro em ânima. Lambido e
frágil e por Aquele ungido.

Metade abandono,
a outra, decreto de lucidez.
Alameda em ânsias de céu
Barato... Orgasmo afiado,
menos de si alagado,
enquanto homem e aflito.

Inventa-te! Faz avesso,
faz perfeito, faz inverso.
Às favas! Descartes não esteve
O tempo todo certo...
Nem te julgues ateu,
aventura outro o nexo causal.

Já é hora...
Define a andança;
é só um instante entre a esquina
do que querias ser
e a que te revela o macho animal.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Meu Caso Literário


Meu caso literário, o mais dileto, é objeto direto
E para ele são minhas orações coordenadas
Usualmente, ao discorrê-lo me arrisco e submeto.

Composto, pretérito perfeito beira a gerúndio
Aposto, explica-se em hipérboles e não redunda
Singular e plural, artigo indefinido nem é infortúnio
O meu caso muito amado nunca pouco me deslumbra.

Lembro-me, certa vez lhe pedi um aceno de esperança
Intimamente, ao largo de si me permitiu um sorriso
Tinha gosto de ser livre e tomou o meu, era uma dança
Espírito solto no indizível e no plausível
Rara energia, fração de carbono sem cópia...
Ah! O pedaço que me escorre dos dedos... inexaurível
Rápido transcende, volta e se perde no caminho a meio
Itinerário de vagos alcances, caso completo seria um cordel
Ou uma ode a espelhos e ciclopes, tema final... não creio.


Dedicado à Cau Alexandre.

sábado, 11 de outubro de 2008

Delírio de Chuva



Deixo vir uma chuva assim:
contínua,
na esteira do vento.
Lá fora é muito atraente,
pingos dentro um do outro
dentro tudo o que se sente.

Uníssona cadência
Flashes.. deixo que venham...
Olhos fechados,
odores... de beber... embriagar
Folha aberta.
Mergulhar...

Deixo vir uma chuva assim:
imprudente... sensual,
Entre galhos deslizando
Suave... dias úmidos.
Múltiplos tantos,
todos únicos...
Fecundar...

Chuva de verão inteiro.
Inverno de uma alma;
dimensão de chuva demora;
dias que não somos sós.
Inverno vai embora.

Tudo bem se te disser minha?
Desejo vá comigo novamente
Só por hoje...
Ainda que chova eternamente.

(Fernando/Fátima/Brisa)

sábado, 9 de agosto de 2008

Escrever



E porque desejo menos as palavras,
àquilo que não expõem,
fascínio e contra-senso...
devoro o efeito que elas me dão.

Farta ausência minha
a me completar em rimas,
a me fragmentar em vontades
do roçar delicado da língua.

Se a sensatez me encarcere
e minhas mãos emudeçam,
tornar-me-ei nostalgia
do que dentro de mim amanheço.




sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Duas Certezas


Traga-me o desabafo da tua dor,
o deposita em meu peito,
transpira da pele
o teu mundo imperfeito.

Traga-me a sede concisa
das leviandades breves,
posto que assim, bem lento,
teus suspiros me leve

para lá da vida, além da morte,
à fronteira do existir,
e que a qualquer tempo,
venha uma ou outra nos redimir.

sábado, 12 de julho de 2008

Convite





Vestirei em mim o teu corpo
como quem veste a roupa melhor.
Deixarei à mostra meus cantos,
pequenos e grandes arcos.
Sem nenhum similar desejo,
sem sequer desejar amor.

domingo, 6 de julho de 2008

Regresso


De onde voltas tão nu?
Por portas oblíquas,
fazendo cair da boca
saudade tão rouca,
em notas de flor?

Do abismo do céu?
Desejo entre dentes,
sorriso curvado
em cantos toados.
Abraçado a sua dor.

sábado, 28 de junho de 2008

Reinspirar








Inventamos palavras antigas,
meio céu meio mar.
Naquela areia ambígua
abrimos riscos de par em par.

Mas perdemos, é certo,
nosso chão de desenhar
N’algum momento deserto,
por descuido do pensar.




domingo, 22 de junho de 2008

Identidade



Para renascer de amor,
mato-me todo santo dia
e até nos dias pagãos
morro volátil e fugidia.

Em que me pese os amores,
seja toda a minha sina,
colher saudade e poesia
do que a morte me destina.

Não corram teus olhos
para onde não vejam os meus,
o amor e a morte e a saudade...
traços do rosto que o dia me deu.




sábado, 21 de junho de 2008

Começo



Sair à noite,
andar sozinha,
em todos os passos,
perder o exato.
Olhar no vento
meu ser por dentro.
Fluir no escuro,
na beleza
das voltas do dito
mal acabado.
E se ainda assim,
não me perder de mim,
persigam-me todas
as minhas horas.
E que o caminhar
devore medos e sombras,
mas se estes perdurem,
Insistam, afrontem,
ilumine-me o silêncio
das estrelas,
cegue-me este silêncio,
para que não intua inquietude
na dor.
Traga-me o cansaço,
um espelho,
para que eu,
ao acordar,
reflita-me “começo”.



Dedicado à Claudia do Espírito Santo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Fotografia de Outubro


Outubro chegou
numa fotografia sépia.
Vi meus pés no abril de ontem,
bocado de um átimo impresso...

Olha que coisa engraçada...
Tua lembrança envolta em púrpura,
neste lado occipital.
Nem cedo nem tarde me despeço.

Não fales de esquecimento,
longe não te deixaria ir assim,
nem nos magoe a distância;
a mesma que é de mim é de ti.

Modo de Amar




Fechei teus traços
em minhas digitais;
crayon, carvão,
aquarela de um tom a mais.

No peito de tua alma azul
quão longe me levaste...
Achei-me!
Sem pressa nem alarde.

Eu te supunha terra,
mas eras rio
que rolou pelas pedras,
sumiu-se no mar,
se trouxe e partiu.




domingo, 8 de junho de 2008

Único Ato



Não me olhes assim de cima
para que não me vejas papel
de onde reverte palavras
de injuria escorrendo.

Não me olhes assim distante,
pois já te contaminou
a febre de “estarmos”
fossemos nós o momento por dentro

ato nenhum de ler nos medos,]
e divagar em segredos,
chagar atrasado, guardar-se calado...
pensamento sem continuação.

Não me olhes assim estendido
letras largas no papel meu e teu
que sou eu e és tu,
linguagem: objeto nu da ação.



domingo, 18 de maio de 2008

Intrínseco


Harmonia em freqüência modulada
trazendo a calma essencial.
Restos alaranjados ao acaso,
disseminados sublimes pelo sol.

A vida a correr do mesmo modo
em caminhos fervilhantes,
represada num modo de um olhar,
suspensa em acordes errantes

de anseios que não jazem findos
à égide da escuridão,
antes emprestam tantas mil cores
dos dias que ainda virão.

Tal qual artistas sem palco,
escritores autônomos sem pena,
compomos histórias diárias
e assim ninguém perde sua cena.

Catarse

Nas tardes ociosas,
envoltas em vento leve,
o verbo fluía fácil
ao redor de passado e porvir.

O presente era um mundo
de muitos momentos breves,
de toques amenos de mãos,
apenas para nos permitir sentir.

Mas, mais lentas que o vento,
no limite do impossível,
abriram-se portas tão mudas,
feitas de dia-a-dia.

A palavra quedou inaudível,
em seus conteúdos avessos,
dormia em sossego no espaço
e o verbo não mais se movia.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Imprescindível


Sim e não.
E tudo o que vai a distância do meio.
renúncias mudas de ontem e hoje
longe,
lá onde cicatrizam pegadas no chão.

Centro e margem.
Para que não se conjugue amor e desejo
sem que se lhes distingua a cor,
e se esta exista,
não seja miragem.

Inteiro e metade.
Porções conhecidas do “um” divisível,
não dicotômicos,
não antagônicos,
mas tal que sejam verdade.

Eu e você.
Não precisa ser inteiro ou metade,
não carece ser centro ou margem,
nem sim nem não,
sejamos, quem sabe, um "por que".

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Prólogo da Paixão


Vem assim, sem pretensões,
de tantos caminhos distantes,
marchando no vento dissonante,
improvisando no eco canções.

Vem sem intuir origem,
trazendo evidente surpresa,
um quê de estranheza,
por tudo que os silêncios se dizem.

Relâmpago nas matas sem fim,
vem deste modo preciso.
O êxtase no meio do meio.
De um jeito tão novo se faz mar e jardim.

Jamais passa e não permanece,
insistente princípio do quando,
perene por enquanto,
ao nos darmos conta já acontece.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Desejo Em Soneto



Se me chegasses sempre à noitinha
com as horas do dia envoltas em laços,
quando a sombra no Éter caminha,
e se eu perdesse teu corpo em meus braços?

Ao enlevar-me em vontade tão minha
de tua pele e do teu cansaço,
meu riso desfeito no embaraço,
no teu anseio, no prazer que nos vinha,

vagaria serena, qual semente ao vento.
Mil luzes vidrando-me em teus olhos,
gravando a imagem que a noite não trai,

como se tudo no desejo desatento
corresse por fora, em minutos imóveis,
na fenda carmim que contrai.

domingo, 4 de maio de 2008

Sons



Na partitura,
a tarde invadiria o dia
trazendo garças que pastariam
sobre um espelho de águas azuis
e uma brisa melancólica
viria de longe com a sombra.

Tantas tardes,
muitas garças,
outros sons.

O vento viajaria deixando
o odor da noite,
vestida de dourado e depois,
azul intenso,
cravejando de infinitos brilhos
e assim ornada,
deitaria sobre o mar e lhe ouviria
os murmúrios,
sem nada dizer.

Tantas noites,
muitos brilhos,
outros sons.

O mar agitar-se-ia
em ondas de ansiedade
no império da lua simplória,
Sol de amantes notívagos,
lanterna de afagos errantes,
testemunha de todos os sussurros.

Tanto mar,
muitos afagos,
outros sons.

E a manhã,
fresca e branca em seu inverno,
vasculharia a terra,
o asfalto,
o concreto,
as vidas despertas,
envoltas em ruídos tão seus.

Tanto inverno,
tantas vidas,
outros sons.

A Chuva


Cheiro de mato molhado
envolvendo os sentidos,
antes da visão das gotas na janela,
sol extinguindo seu brilho.

Invernada inteira,
admirável na fronteira lá fora,
um som que nos alaga
um piano, um arfar.

Lampião solitário dependurado,
pernas em meio a pernas,
largadas no chão em desalinho
de tantas delícias sem desvendar.


Nos extremos,
encaixe perfeito ser em ser.
Urgência adequada e sem razão,
vitrine de olhos no olhar.

Iluminado quieto desejo cansado
de resistir em render-se
sem vergonha à contemplação,
como fora temor reacender os corpos,


como fora pecado perde-se
nas porções de saudade rápida
do costume de nos buscar
nos portais conhecidos e nus.

E a chuva de vento encantado,
emissário de segredos buliçosos,
gira e entra e nos põe na pele
o sabor úmido da manhã.


Desfaz nosso amor na areia
e o arquiteta indiscreto,
escancarado e candente,
obelisco de cristal feito em luz.


Dedicado a Daniel.

Interlúdio



Lá no começo de tudo
o inventei poema deitada ao largo
nos olhos de pôr-de-sol.
Risquei o céu de sua boca,
crendo-me cometa ao entardecer,
do cintilante ao vermelho batom.

Quando primavera,
vestí-me em roupas do orvalho
impregnado na tela de matizes quentes,
pintada com os pêlos do seu corpo.
Dois pontos de fuga sem pressa
no meridiano ser algum.

E lá no meio de tudo,
o cometi de improviso, pensamento,
correndo no tempo certo do tempo,
qual lágrima destilada na poeira
do caminho sem bússola nem espelho,
eu, fêmea em despertar.

Quando verão,
despi-me em noites de lua
e assim tão clara bati a sua porta
com argumentos de vontade e solidão,
para que me tomasse completa
e fosse suave ao mergulhar.

E ao fim, no todo,
foi tudo poema e pintura,
foi outono e inverno,
um interlúdio de nós mesmos.
Não pretendeu ser efêmero,
embora não se desejasse eterno.



Querer

Atrás da íris,
na frente do corpo.

Sumos vítreos,
vítrea claridade me abala.

Homem, sereno
náufrago dos pingos de mim,

di[versos] pequenos:
matéria ou alma,

caidos no meio do mundo
do meio, no meio de mim.
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